Instituto Amélie

Afinal, os opostos se atraem ou se distraem?

Quem nunca ouviu a frase “os opostos se atraem”? Talvez, você até já tenha escutado a famosa música do grupo O Teatro Mágico que dita até o contrário “os opostos se distraem”. Mas, e aí? Qual a regra e critérios certos a serem seguidos na busca de uma parceria perfeita?

Felizmente, não existem tais critérios mais assertivos que garantam uma relação segura, duradoura e feliz. Claro que seria mais fácil se pudéssemos ter uma lista guia que nortearia nossas escolhas, né? Mas, para quem já amou pelo menos uma vez na vida, sabe bem que nossos sentimentos são fluidos e nada passíveis de controle.

Significa dizer que, mesmo que tenhamos muito cuidado na decisão de dar continuidade ou não em um contato afetivo amoroso, num primeiro momento, alguns aspectos do outro só são possíveis de serem assimilados com o tempo (muitas vezes, só depois da convivência diária dentro de uma mesma casa. Não é?). Enfim, enquanto estamos em processo de conhecer uma pessoa, estamos nutrindo e em troca de afeto. Logo, algum sentimento já está sendo plantado, semeado e (pasmem!) colhido. Não existe muito controle no encantamento, ele é fruto de troca afetiva e vai acontecer, necessariamente, enquanto houver esse intercâmbio. Obviamente, exceto em casos em que realmente não há nenhum sinal afetivo, nem intermitente.

Sendo assim, já sabemos que se houver troca e afeto, muito possivelmente já existe construção de apego (em maior ou menor grau). Não está tão passível de controle e racionalidade. Alguns tentam, mas pra isso ser possível é preciso de múltiplas estratégias de sabotagem (leia-se: estratégias de proteção).

E é aí que a questão se complexifica: muitas vezes, quando percebemos as diferenças e elas começam a se chocar, já estamos afetivamente envolvidos. Esse cenário dificulta muito a implementação de decisões sobre as diferenças.

A sociedade nos ensina muitas regras sobre relacionamentos. Muitas mesmo! De diferentes tipos e que, por vezes, se contradizem. Alguns dizem que os parceiros, para darem certo, precisam ser diferentes e se complementar. Outros, que a receita perfeita do amor mora nas afinidades: quanto mais afins, mais harmonia existe na relação. Mas, cuidado! Essas premissas são mitos relacionais e muito superficiais. O problema com esses mitos é que eles agravam o sofrimento dos parceiros quando se deparam com algumas dificuldades na relação- uma vez que aprendemos que determinado aspecto é errado ou indicativo de insucesso, tendemos a sofrer ainda mais diante desse contexto.

  As diferenças ou afinidades (que também podem ser problemáticas, por vezes), são aos parceiros gatilhos que geram reatividades. Esses gatilhos estão vinculados a pensamentos intrusivos e sentimentos imediatos ao contexto. Por exemplo: “se somos diferentes nesse aspecto, então não podemos ficar juntos”. Reagimos de alguma forma a esse pensamento porque, como disse no início, já estamos afeiçoados (ou até amando) aquela pessoa. Essas reatividades são defesas desse gigante impacto de ter que se desfazer de algo e alguém que já nos é muito precioso.Protestamos contra isso, de alguma forma- lutando ou nos afastando/protegendo.

 Diferenças são desconfortáveis mesmo. Para todo mundo! Crescemos com uma história própria que foi moldando nossas crenças, simbologias e formas de agir sobre o mundo. Quando nos deparando com um diferente é muito comum que tenhamos desconforto. Quando essas diferenças veem da pessoa que amamos o desconforto ganha peso a mais. Queremos viver em homeostase, tudo que choca com nosso arcabouço de percepção de mundo gera desequilíbrio. As regras sociais, destacam ainda mais o nosso estranhamento com as diferenças, uma vez que, já é desconfortável e existem muitas pessoas dizendo que isso é inconciliável.

  Sendo assim, reagimos, protestamos, lutamos e nos defendemos. Mas, acima de tudo, estamos desprotegidos e em uma “sinuca de bico” sobre sentir um medo muito intenso de ter que abrir mão de algo que tanto estimamos- a pessoa que amamos.

A boa notícia é que essa regra social é baseada em critérios muito superficiais de compreensão das relações e dos sentimentos. Uma vez que já entendemos que o desconforto ao diferente é natural e tendemos a ser engatilhados com esse choque, podemos também compreender que existem sentimentos que são mais profundos acontecendo. E aí sim, nesse mergulho interno podemos encontrar a verdadeira dor e, consequentemente, a verdadeira cura e fortalecimento da relação. Somente no encontro e abraço na dor e na vulnerabilidade é que existe a resposta da qualidade da relação. Quanto maior a abertura dos parceiros em se encontrarem nesse lugar, melhor o prognóstico da união.

Talvez, O Teatro Mágico estivesse mais próximo de estar correto. Afinal, é preciso estar disposto para fazer do incômodo uma força de aproximação, uma vez que se entende o convite emocional mais profundo envolvido.

Afinal, como gostamos de repetir por aqui na clínica “Só o amor pode curar o amor”.