Instituto Amélie

MANIFESTO DO AMOR

É muito comum que os casais entendam as divergências e conflitos como sinalizadores de fracasso do relacionamento. Tal como se as elas e suas reações fossem intencionalmente direcionados a machucar um ao outro. Assim como as mudanças, tão pedidas por cada e tão pouco implementadas por ambos, são compreendidas como provas factuais de que a relação não tem “salvação” ou que o casal está insistindo em um projeto já falido.


Os parceiros, diante desse cenário de desesperança de mudança e sintonia (de ideias, opiniões, hábitos, sentimentos, significados…), saem extremamente desgastados. Naturalmente, afinal, os a percepção certeira é “sempre temos a mesma briga e nada muda”. É verdade! O ciclo do casal é um padrão que, mesmo que mude o tema ou o contexto, a dinâmica tende a ser a mesma e se repetir a cada situação de estresse.


A parte mais curiosa dessa situação é: as reações de cada um nos conflitos são movimentos (desesperados) em busca de conexão ou de proteção da relação. Sentimentos vulneráveis, aqueles mais profundos, são acionados e como forma de defesa aprendemos a reagir ao perigo com determinados comportamentos. Esses, por sua vez, são reflexo imediatos de sentimentos mais reativos e superficiais. Afinal, vale lembrar que a nossa vulnerabilidade prefere se manter escondida e bem protegida. Por isso, ela vai “mandar” alguns “guardas protetores”: os sentimentos reativos e comportamentos defensivos.

As vulnerabilidades estão sempre presentes nas relações amorosas. Mesmo que elas não sejam tão aparentes ou explícitas, elas estão lá. Nós seres humanos temos uma necessidade de busca por conexão- afetiva, física- e as relações amoras são espaços onde tendemos enraizar com maior clareza essa nossa necessidade. Com a nossa parceria construímos- simbólica e literalmente- uma vinculação que visa a segurança de poder ter um amparo na jornada da vida. E é exatamente por isso que existe, necessariamente, vulnerabilidades por trás.


Se pararmos para pensar, quando existe conflitos/divergência/descontentamento, existe de maneira inerente um estímulo que ameaça o bem estar e segurança da relação e dos parceiros. Como foi dito anteriormente, a parceria é o lugar onde, muitas vezes, ancoramos de maneira mais clara nossa percepção de segurança emocional. Logo, quando algo sinaliza que existe um desiquilíbrio, nos sentimos extremamente ameaçados em perder algo muito precioso. E é aí que a vulnerabilidade, que quer ficar bem escondida para não se colocar ainda mais em risco, manda seus guardas protetores para lutar, protestar ou fugir da situação perigosa.


Ou seja, os comportamentos que observamos nos parceiros durante os conflitos são, em última instância, um mecanismo de luta ou fuga para zelar a todo custo pela própria relação. Por mais contraditório que possa parecer. Afinal, os efeitos dessas reações são danosos, ironicamente, para a própria relação. Como vimos, com o tempo as reatividades repetitivas geram desgaste e afastamento.


Devido a isso, é de extrema importância que os parceiros estejam cada vez mais conscientes dos seus movimentos reativos e suas vulnerabilidades. Essa compreensão pode ampliar enormemente novas possibilidades de elaborar os sentimentos mais profundos e, consequentemente, trazer a conexão entre os parceiros.